O ser humano é o único animal que continua consumindo leite de outro animal após o desmame natural. Por que o consumo de laticínios é mantido se podemos encontrar esses nutrientes em outros alimentos, como o resto dos animais?
O veganismo, além de ser uma dieta livre de produtos de origem animal, é uma causa transversal a muitos fatores que buscam o bem-estar coletivo: para o meio ambiente, para os animais e para o nosso próprio organismo. Os fundamentos do veganismo incluem argumentos éticos, ambientais, de saúde e humanitários, embora existam debates e controvérsias sobre a força desses argumentos.
Desde os tempos antigos, houveram pessoas que deixaram de consumir produtos de origem animal, mas o termo veganismo é moderno: foi inventado em 1944 por Donald Watson com o objetivo de diferenciá-lo do vegetarianismo, que rejeita o consumo de carne, mas aceita o consumo de outros produtos de origem animal, como leite, ovos e queijo.
Motivos pelos quais o consumo de carne pode ser prejudicial para a nossa saúde
Atualmente, o consumo de carne é um dos principais atores da poluição ambiental, com o gado industrial sendo o emissor de 14% do total de emissões de gases de efeito estufa. Relatórios das Nações Unidas apontam que as indústrias de carne, ovo e laticínios são responsáveis por 65% das emissões mundiais de óxido nitroso.
A indústria da carne também é uma das principais indústrias poluidoras da água, uma vez que, para gerar apenas 1 quilo de carne, são necessários cerca de 2.400 galões de água, número que não é menor, já que, diferentemente da carne, o processamento de 1 quilo de trigo requer 25 litros de água. Além dos milhares de hectares de floresta virgem que são destruídos para serem usados em fazendas de gado.
As conclusões do relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em outubro de 2015 classificam a carne processada como “cancerígena para seres humanos” e a carne vermelha como “provavelmente cancerígena para seres humanos”, fato que não passou despercebido.
Como a mudança da dieta afetaria o mundo em relação ao meio ambiente, a economia e a saúde?
Em 2016, um estudo da Universidade de Oxford publicado na revista PNAS, destaca o enorme potencial que uma mudança na dieta teria “do ponto de vista da saúde, do meio ambiente e da economia”, segundo Marco Springmann, pesquisador da Universidade Britânica.
Segundo o estudo, a dieta vegana pode ajudar a salvar cerca de 8 milhões de vidas até o ano de 2030. A economia em dinheiro, entre custos médicos e de produtividade, é estimada em um trilhão de dólares por ano.
Além disso, confirma que, se o consumo de carne continuar aumentando, em 2050 a indústria de carne será responsável por 50% das emissões de gases de efeito estufa. Isso poderia ser combatido com uma mudança na dieta vegana que reduziria as emissões de gases poluentes pelos animais em 70% e pela indústria de alimentos como um todo em 63%.
A pecuária é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa. Juntamente com o setor de energia e transporte, é um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas. Além disso, os animais emitem metano, outro perigoso gás de efeito estufa.
Vantagens e desvantagens do veganismo
A Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos, a Associação Britânica de Dietética, os Dietistas do Canadá e a Associação de Dietistas da Austrália consideram que as dietas veganas, se bem planejadas são apropriadas para todos as fases do nosso ciclo de vida.
A eliminação de proteínas animais na dieta, especialmente as de carne vermelha, está associada a alguns efeitos benéficos à saúde, como proteção contra alguns tipos de câncer e diminuição do risco cardiovascular.
Em geral, as pessoas que seguem dietas veganas tendem a ser mais magras e apresentam níveis mais baixos de colesterol e pressão arterial, o que poderia ter um efeito protetor para o organismo.
No entanto, o veganismo também pode causar deficiências nutricionais significativas, que só podem ser evitadas com alimentos fortalecidos ou a ingestão regular de suplementos alimentares. A deficiência de vitamina B12 é muito frequente entre os veganos, o que pode causar alterações vasculares precoces e um aumento no risco de desenvolver doenças relacionadas à arterosclerose, além de distúrbios neurológicos.